quinta-feira, 8 de julho de 2010

Somos todas Eliza Samudio


Por Mabel Dias

"Qual de vocês que é casado não discutiu, que não saiu na mão com a mulher, né cara? Não tem jeito. Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher".

Esta é a declaração do goleiro do time carioca Flamengo, Bruno, ao ser perguntado sobre a agressão que outro atleta do time, Adriano, cometeu contra a sua namorada há alguns meses. Para Bruno, “bater em mulher é normal”. Desde o dia 26 de junho, a sociedade brasileira acompanha as investigações da policia mineira na busca da modelo Elisa Samudio, namorada de Bruno e que está desaparecida desde esta data. Elisa teve um filho com Bruno e tentava fazer com que ele reconhecesse a criança e pudesse ajudá-la na educação do filho. Mas, Elisa encontrou ódio e rancor e até o momento, apesar das buscas intensas, seu corpo ainda não foi encontrad7. Um adolescente, que está envolvido no assassinato, deu um depoimento estarrecedor, arrepiante, à policia do Rio de Janeiro esta quarta-feira, 07 de julho, dizendo como Elisa foi atraída para a chácara do goleiro, em Minas e que ela foi brutalmente assassinada por dois amigos de Bruno, Macarrão e Sérgio, que contaram com a ajuda de um terceiro homem. Os detalhes de como Elisa foi morta são muito fortes e seria bom reproduzir aqui no blog para que possamos gravar em nossas mentes e confrontar com a entrevista fria e calculista dada pelo goleiro à imprensa há alguns dias, dizendo que queria que Elisa aparecesse, quando na verdade, ele já havia mandando seus comparsas “livrarem-se do problema”. Mas, não irei fazer isto, pois é chocante demais, revoltante, mais um crime de violência contra a mulher, entre tantos que o SENHORA DAS PALAVRAS vem acompanhando ao longo deste ano. Só aqui na Paraíba foram 27 assassinatos. E, infelizmente, os números crescem a cada dia...
Elisa envolveu-se com Bruno e acreditou que poderia ter um relacionamento tranqüilo e amoroso. Ele já casado. Engravidou e foi obrigada por ele a abortar, tomando remédios, que foram identificados em um exame de urina feito pela perícia. Seu caso ilustra o de tantas mulheres que engravidam de seus parceiros e são por eles obrigadas a abortar, e como neste caso, são assassinadas. Porém são elas que continuam pagando os pecados, vistas como as provocadoras de todo o mal. “Coitados dos homens”.
Ai, que raiva de tudo isto! Que revolta dentro de mim agora ao imaginar todo o desespero de Elisa Samudio quando foi pega por seus covardes assassinos e de tirar-lhe a vida, parecendo que estavam fazendo algo comum. Parecia que era prática comum para eles, e que não era um ser humano que estava ali. Que mente horrível ao tramar tamanha violência, a de deixar uma criança que estava amamentando sem a mãe e saber que ela foi morta a mando de seu pai! Que raiva de saber que tantas outras mulheres neste momento passam por situações como estas e não conseguem sair do círculo de violência que as sufoca, que as mata. Por isto, que temos que estar atentas e unidas para colocar um BASTA em toda esta violência, em todo este feminícidio que acomete milhares de mulheres. Isto precisa parar! E vamos gritar, buscar barrar tudo isto, SEMPRE! O caso de Elisa poderia ter tomado um rumo diferente. Ela poderia ter ouvido as amigas que pediram para ela não ir se encontrar com Bruno. Diálogos encontrados em seu laptop mostram que ela estava insegura em relação as colocações de Bruno, e a ajuda financeira que ele oferecia para ela poder cuidar do filho.
Mas sua esperança de resolver de maneira saudável sua situação fez cair num verdadeiro bote traiçoeiro.
Não quero mais ler nem ter que escrever casos como este, nem que eles se transformem em estatísticas. Porém, sabemos que a realidade mostra que nós mulheres ainda somos “alvos” de violência doméstica e sexual, pois sobrevivemos em uma sociedade mascaradamente machista, e por isto precisamos continuar, nossa luta é contínua. Precisamos usar de nossas vozes, corpo, escrita para mostrar nossa indignação e revolta, e exigir a punição dos culpados, embora, como disse Débora Diniz em seu artigo "Patriarcado da violência", a punição não vai mudar os padrões culturais de opressão.
Dados recentemente revelados pelo Mapa da Violência no Brasil 2010, realizado pelo Instituto Zangari, com base no banco de dados do Sistema Único de Saúde (Datasus), revelam a ocorrência de 10 assassinatos de mulheres por dia. Entre 1997 e 2007, 41.532 mulheres morreram vítimas de homicídio — índice de 4,2 assassinadas por 100 mil habitantes. Algumas cidades brasileiras, como Alto Alegre, em Roraima, e Silva Jardim, no Rio de Janeiro, registram índices de homicídio de mulheres perto dos mais altos do mundo.